Por
Luciano Bonfoco Patussi
12 de
novembro de 2014
No
futebol, nada acontece por acaso. Profissionais e dirigentes que apresentam
dificuldades em explicar de modo objetivo o motivo pelo qual sua equipe
alcançou determinada vitória ou um título memorável, também jamais conseguirão
entender a causa de instabilidades, de derrocadas, de quedas.
O
Internacional iniciou a temporada 2011, tendo em seu comando a mesma comissão
técnica que, no ano anterior, ancorada na diretoria de futebol que a gerenciava,
havia feito “vistas grossas” ao fato de o time ser poupado durante toda a
disputa do campeonato brasileiro daquela temporada. Tal fato seria parte do
“planejamento” visando disputar o Mundial de Clubes.
Todavia,
o “planejamento 2011” foi deixado de lado pouco tempo após iniciada a nova
temporada. Foi contratada uma nova comissão técnica, que venceu o campeonato
estadual, mas que foi demitida, juntamente com o vice de futebol, após três
derrotas sequenciais no certame nacional. É notório que a “convicção diretiva” era algo
marcante naquele momento vivido pelo Internacional.
Naquele
instante, um novo dirigente, mais próximo ao presidente do clube, assumiu o comando
de futebol. A partir daquele momento, o Internacional passou a perder, ano após
ano, seu rumo futebolístico! Iniciou-se um ciclo em que o time colorado deixou
de ser protagonista, passando a ser apenas um medíocre coadjuvante nas grandes
disputas nacionais. Disputar a Taça Libertadores da América passou a ser apenas
sonho distante. Fato!
De lá
para cá, entre trocas de treinadores, dirigentes e outros fatos mais, o
torcedor tem assistido de camarote a situações inusitadas, tais como (apenas para citar algumas):
- Entre
tantas “benfeitorias”, a diretoria de futebol do Internacional contratou um
novo centroavante. Além de ofertar salário de jogador em nível (?!) de seleção
brasileira (local onde sempre passou longe), o clube pagou alguns milhões de
reais pela rescisão de contrato deste atleta, para a empresa que detinha seus
direitos econômicos e o vinculava a um time do futebol carioca. Ah, se houvesse
Fair Play Financeiro no futebol brasileiro... Haja nota oficial!
- Um
popular clube paulista, detentor de verbas televisivas avantajadas e de
patrocinadores milionários, também teve seus benefícios. Esta agremiação, na
ânsia por renovar seu elenco, encontrou no Internacional o suporte necessário
para repassar um de seus atletas, que estava afastado. Em troca, ainda recebeu
dinheiro do clube gaúcho, por essa transação;
- O maior
rival do Internacional, tempos atrás, contratou um zagueiro. Por força de
alguns contatos, conseguiu negociar o mesmo com o futebol chinês, mesmo com
todos já conhecendo o seu "potencial" técnico e tático. O tempo
passou. Foi o momento, então, de o provável campeão brasileiro deste ano errar,
ao repatriar o defensor do futebol da China. Todavia, teve tempo e parceiros
para corrigir seu equívoco. Contratou bons zagueiros do futebol carioca e
paranaense, para formar sua defesa. Conseguiu repassar ao Inter sua contratação
equivocada – e ainda deve ter recebido uma considerável verba por tal negociação!
- As
renovações contratuais de atletas, em troca de “gratidão”, apenas corroboram a
tese de que os jogadores do Internacional atualmente são tratados em patamar
acima do clube – o que é equivocado. Renovações contratuais milionárias, para
um novo vínculo de três ou quatro anos, são totalmente desnecessárias, pois
ninguém pagaria por alguns atletas os valores que o Internacional atualmente
oferta. Basta analisarmos os resultados dos últimos anos, para concluirmos se
essa linha de pensamento está, ou não, equivocada!
O clube
necessita se adequar a novas realidades e precisa ser tratado acima de qualquer
jogador e de qualquer interesse! Se todos pensarem assim, tenderemos a evoluir!
Caso negativo, viveremos com importante parcela do time campeão da Copa Sul
Americana de 2008 ainda dentro de campo, seis, sete e oito anos depois! E os resultados
futuros? Bom, isso é outra história...
- Sem
necessitar novos goleiros, visto que o elenco do Internacional possui bons e
promissores jogadores para a posição, o clube foi ao mercado e contratou um atleta
no auge dos seus quarenta anos de idade. Não satisfeito, ainda ofertou
absurdamente um contrato de dois anos, permitindo ao mesmo curtir a vida em
Porto Alegre “agregando valor”.
O
Internacional possui bons jogadores, é verdade! Mas são “jogadores que não
fazem time” há anos, dentro desse conjunto! Um bom time de futebol é uma equipe coesa,
independentemente de nomes! Nomes e ídolos vem em segundo plano! Chegam ao
clube, vencem, faturam de acordo com seus contratos, marcam seu nome na história,
"vazam" pela porta da frente e "largam a teta" – esses dois
últimos adendos se cumprem apenas se tiverem o chamado "Bom Senso FC"
– que inclusive dá nome a um grupo de amigos “líderes” do futebol brasileiro,
que “luta pelos anseios (?!) da classe e pela garantia dos seus mais variados
direitos”!
Paralelo
a isso tudo, o Internacional tem uma comissão técnica que foi contratada
equivocadamente. O atual treinador jamais deveria ter sido recontratado pelo
Internacional, diante do discurso da diretoria no início de 2014, que era o de
renovar o plantel e o time. Era grande a chance de essa política não dar
resultado. Alertei sobre isso no início da temporada. Ninguém se contrata
sozinho. Atleta e treinador não fazem o planejamento de longo prazo do clube.
Não redigem seu próprio contrato. E não assinam o referido documento, se auto
vinculando ao clube por três ou quatro temporadas, no auge dos seus 28, 31, 34
ou 40 anos de idade!
Seria
extremamente importante o torcedor, de modo geral, fazer uma avaliação do
cenário macro, apontando a fundo os problemas reais do clube, verificando as
causas que fazem o Internacional, atualmente, parecer o time dos anos 90 no
cenário do campeonato brasileiro.
Nos
últimos anos, sem exceção, a temporada do Internacional tem terminado sempre
entre agosto e outubro, quando determinado atleta do time, em entrevista
coletiva, cutuca o maior rival, dizendo que “no lado de lá faltam títulos”.
Dada essa entrevista, a cada ano, a casa do Inter cai. A barca afunda! Nesse
ano, a entrevista “bombástica” aconteceu em meio a eliminações do Inter para o
Bahia e o Ceará. No ano anterior, essa colocação ocorreu pouco antes de o Inter
passar a ser cogitado como um dos prováveis rebaixados. Se contentar com essa
flauta é pouco, muito pouco! Eu tenho memória! Guardo fatos. Os bons, mas
também os ruins! Há quem esqueça um, ou ambos! Eu, não!
Alguns
insistem em viver do passado, complicando o presente e obstruindo o futuro. Há
cidadãos dessa espécie, inclusive dentro de campo. Mas a culpa não é apenas
destes. A responsabilidade maior é de quem dirige. De quem tem o poder. Ou
finge mandar em algo.
Eu nunca
tinha visto o Internacional levar goleada em Gre-Nal. Era uma criança pequena
na última vez que o Inter foi goleado em clássico. Não acompanhava futebol. Não
lembro. De 1991 para cá lembro de tudo, e o mais próximo que o Internacional
esteve de levar goleada do Grêmio, foi no início dos anos 2000, no Olímpico. O
jogo estava 3 a 0, mas Luiz Cláudio e Fábio Pinto ajudaram a salvar o Inter de
levar uma chacoalhada que tinha tudo para ser uma goleada histórica, devido à
diferença técnica existente entre os times. O placar de 4 a 2 saiu barato!
Pois bem:
o time do Inter de 2014, apesar de tetracampeão gaúcho – algo que particularmente
considero muito importante – tem batido metas negativas em tempo recorde.
Marcas históricas. Eliminações sequenciais. 5 a 0. 4 a 1. Está difícil
suportar. Prefiro cobrar agora, enquanto ainda há o que fazer, do que esperar.
Infelizmente, parece parte da cultura do futebol gaúcho: para evoluir, ou o
time precisa ser rebaixado no campeonato brasileiro – momento em que os sanguessugas abandonam o clube, ou então necessita assistir
a uma grande sequência de títulos do rival. Caso isso não ocorra, para muitos,
está tudo sob o devido controle. E o tempo vai passando! A casa, caindo! A
barca, afundando!
Vivenciei
5 a 2 no Olímpico, 4 a 1 no Beira Rio e o mesmo placar até no Centenário, em
Caxias do Sul. Agora, preciso apenas acostumar ao outro lado da moeda. É
triste. É a realidade. Eu não fico quieto e conformado com tal situação, não
apenas dentro de nossa rivalidade local – onde ser goleado é algo péssimo – mas
também com a situação no cenário nacional, onde o Inter é mero coadjuvante há
tempos. Quem não quiser, não precisa enxergar. Basta se contentar com os títulos estaduais. Isso é comodismo!
Seguimos
assim: dois torcedores protestando contra o time no aeroporto; continuamos
aplaudindo chiliques dentro de campo, confundindo isso com raça, sangue, suor e
lágrimas; e prosseguimos aceitando friamente "nota oficial" de
jogador medíocre, para o qual sócio e torcedor pagam salário milionário! Está
tudo bem! Tudo sob controle – SQN!
O fato
ocorrido no domingo passado é apenas a ponta do iceberg. O problema todo é o
acúmulo de equívocos cometidos durante meses e anos de uma gestão de futebol de
acomodações, sem convicções, fadada ao fracasso futebolístico dentro de campo!
Tal qual estamos vendo! Excetuando-se o tetracampeonato gaúcho – que é bom e me
deixa contente – o que sobrou de bem realizado pelo Internacional,
dentro de campo, nesses últimos quatro anos?
E, para
os gestores e comandantes de futebol do Internacional, que nunca sabem explicar
os motivos pelo qual vencem e nem mesmo entendem o porquê são derrotados, o
pensamento exposto no primeiro parágrafo desse texto é bem simples. Pergunto:
qual a diferença do Inter e do Grêmio, desde a final do campeonato gaúcho desse
ano - vencida pelo Inter por 4 a 1, para os times que entraram em campo no
último domingo?
Alguns
diriam, "ah, isso é o futebol, não tem explicação". Todavia, a final
do campeonato gaúcho apresentou um time gremista que marcava de longe. Sem
apertar a saída de jogo. Lento na sua execução. Agir dessa maneira, sem ter
muita qualidade técnica individual, contra um time que atua junto há tempos e
onde alguns jogadores possuem boa técnica, é suicídio. 4 a 1 pro Inter!
O time do
Grêmio, no último domingo, marcou em cima. Não deu espaço. Não permitiu deslocamentos
e tabelamentos em proximidade, devido a sua força de marcação. Com isso, também
não correu riscos de ser surpreendido, devido à falta de velocidade do time
colorado. O Grêmio apostou em organização defensiva com velocidade nas saídas
de jogo, contra um time de jogadores relativamente técnicos, porém lento e sem
mobilidade, com deficiência na marcação devido à formação de seu meio campo. 4
a 1 pro Grêmio!
Então,
qual a diferença do Gre-Nal decisivo do campeonato estadual, para o jogo do
último domingo? O Grêmio. Sua postura mudou. E o Inter? Foi o mesmo! Vem sendo
o mesmo há quase meia década!