14 de março de 2014

S. C. Internacional: aproveitamento insuficiente dos talentos da base

Por Luciano Bonfoco Patussi
14 de março de 2014

O Internacional é um clube que tem na sua essência o fato de ser formador de atletas. "Celeiro de Ases" inclusive dá nome ao hino oficial da instituição, enfatizando a característica enraizada nas tradições do clube. Nas últimas temporadas, inúmeros jogadores formados e revelados no Internacional foram fundamentais para o time.

Luiz Adriano, Rafael Sóbis, Alexandre Pato, Nilmar, Taison, Fred, Oscar, Giuliano, Leandro Damião, Sandro e Rodrigo Moledo. Esses nomes da história recente do clube apenas comprovam o potencial institucional na revelação de jogadores que possuem grande talento. Todos foram formados, ou revelados, pelo Internacional. Favoreceram o elenco em importantes conquistas nas últimas temporadas, além de beneficiarem as finanças do clube ao serem negociados com outros mercados.

Após a grave crise técnica ocorrida novamente ano passado, entre tantos fatores causadores, relevante foi o fato de o Internacional ter findado o campeonato brasileiro na medíocre "segunda página" da tabela de colocação do certame - como disse um diretor de futebol na época. Mudanças foram prometidas pela diretoria. Haveria maior fomento ao adequado aproveitamento das categorias de base. Teoricamente.

Para comandar essa nova mentalidade, a diretoria do Internacional contratou Abel Braga. Que chegou ao clube apresentando para a mídia um discurso divergente em relação ao proposto pelos gestores. Além dos jogadores que possuem contratos pomposos em vigor com o Internacional e que já estão na "segunda página" de suas carreiras futebolísticas, o "novo" comandante referiu publicamente que seria interessante voltar a trabalhar com Edinho e Rafael Sóbis.

Ambos são bons jogadores, em minha opinião. Mas já passaram pelo clube. O discurso adotado era de mudança. A política "mais do mesmo" faria parte do passado. Era momento de inovação. Entretanto, o comandante escolhido pela diretoria, embora competente e vencedor, não tem este perfil, em minha humilde opinião. E isso já está se refletindo no gramado. Não nos resultados, ainda. Mas na configuração do time e também na dinâmica e na potencialidade apresentada em campo.

Contra o Remo, em goleada aparentemente incontestável na estreia da Copa do Brasil, nenhum jogador da categoria de base atuou desde o início da partida. Fato que vem ocorrendo desde o início da temporada. Os talentosos e promissores jogadores atuam apenas alguns minutos entrando no decorrer dos jogos, ou então fardam desde o início, mas em meio a reservas que jogam sem o mesmo ritmo dos "aclamados" titulares.

Ao final de 2013, o Internacional foi campeão brasileiro da categoria sub 20. Acompanhando o torneio, observei pelo menos cinco jogadores com potencial para aderir imediatamente ao grupo principal colorado e crescer gradativamente. Com potencial sendo desenvolvido, estes jogadores acrescentariam qualidade ao time e cresceriam enquanto profissionais.

Mas, "e se" a entrada destes jovens na equipe não correspondesse a expectativa, de maneira imediata? Não haveria problema, pois os resultados não seriam tão diferentes do que o produzido pelo clube nos últimos três anos. E a solução seria bem menos custosa, mais motivadora e mais promissora.

Otávio é outro exemplo: ano passado, foi um entre dois destaques individuais em meio a crise, mas hoje passa a impressão de estar esquecido por Abel Braga, que retornou ao clube com alguns de seus titulares previamente eleitos, respaldando uns publicamente, em detrimento de outros até mais talentosos. Atletas como, por exemplo, Andrigo, Leandro, Murilo, Bruno Mendes e Aylon, entre outros, que teoricamente passariam a ter melhores oportunidades, seguem na sombra de velhos ídolos, de titulares contestáveis e de seus reservas com limitada categoria técnica.

Os mais promissores jogadores do Internacional, citados no parágrafo anterior, se encaixariam perfeitamente nas posições que o clube mais necessita atualmente. Seriam suficientes para tentar uma mudança na mentalidade de futebol praticada pelo clube, buscando tornar a equipe novamente competitiva em alto nível de exigência. A matéria prima está em casa, sendo possível com ela sanar as posições mais carentes. Falta a devida e correta utilização.

Sou contra radicalizações. Mudanças precisam ser gradativas. Mas há momentos de exceção. A diretoria do Internacional anunciou esta mudança já para o início da temporada de 2014. Escolheu o comandante para a empreitada. Equivocadamente, em minha visão, considerando a nova filosofia defendida.

O que vemos, até então? Um time sobrando tecnicamente nos primeiros meses do ano, disputando o campeonato estadual de forma inigualável. Apresentando o mesmo futebol e a mesma dinâmica de jogo ocorrida em 2011, 2012 e 2013.

Fiquei um período sem emitir opiniões relativas ao Internacional, desde o ano passado. Não gosto de passar a imagem de "corneteiro", aquele que critica tudo, sempre. Aliás, meu histórico comprova que sou adepto a questões relativas ao "Clube do Povo". Assim sigo.

De maneira mais contundente, volto agora a opinar, logo após uma vitória aparentemente avassaladora. É a melhor forma de registrar as observações feitas ao longo do tempo e as ideias de planejamento adotado por gestores de futebol do clube nos últimos anos.


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