12 de abril de 2011

A camisa 5 tremula na casamata


Por Luciano Bonfoco Patussi
12 de abril de 2011

Quando todos consideravam “zebras” os clubes sediados no sul do Brasil, o Inter tratou de mudar a história. Calou o Maracanã, apenas 25 anos após o “Maracanazzo”. Imobilizou Rivelino. Trancou o forte time do Fluminense, que se viu sem reação. Impotente. Um mágico facho de luz iluminou a história que o futebol gaúcho escreveu além do Mampituba em 1975. Figueroa testou para o fundo da rede a desconfiança e a descrença, dando ao Internacional o seu primeiro título nacional. Falcão estava lá. Explodiu o Beira-Rio!

Em 1976, o Clube do Povo reeditou sua maior conquista até então. Se um título, em muitos casos, pode ser considerado um acaso do destino, dois é a confirmação sobre quem é o melhor. O protocolo carimbado. A glória. Falcão e Escurinho que o digam. Falcão. Escurinho. Falcão. Magia! A tabela aérea que encantou o Brasil colocou o Inter na decisão. Méritos para o grupo e, logicamente, para Falcão. Esquadrões diferenciados e inesquecíveis em nível planetário, isso é para poucos! Inter 76, o melhor time do mundo na época!

Não bastassem duas conquistas, era preciso carimbar o “S”, o “C” e o “I” como sendo uma “glória do desporto nacional” no decorrer de uma década inteira. Falcão sempre foi diferenciado. Em 1979, foi simplesmente Falcão. O Palmeiras e o Morumbi sucumbiram diante de sua atuação de gala. O Vasco da Gama e o Beira-Rio presenciaram o belo gol de Falcão na partida em que a terceira estrela dourada foi bordada sobre o peito. Inter 79, “O Time que Nunca Perdeu”, imortalizado em gols e na obra de Falcão na literatura colorada!

Em 1980, pouco antes de ser negociado na maior venda de atleta brasileiro para o exterior, Falcão ajudou o Internacional a cumprir sua primeira grande jornada fora do Brasil. Após eliminar Vélez Sarsfield e América de Cali, o Inter de Falcão foi vicecampeão da Copa Libertadores. Nem sempre vence o time com maior potencial. Talvez o Nacional, que mereceu a conquista, tenha apenas se tornado o responsável por ajudar Falcão a reescrever sua história vermelha na Libertadores, décadas mais tarde. Tudo está no seu devido lugar!

Na Roma, Falcão se tornou unanimidade. Foi coroado “Rei de Roma”. Ajudou o tradicional clube da capital italiana, de fiel e fanática torcida, a reconquistar o título nacional, após décadas de espera. Falcão disputou duas Copas do Mundo e inclusive esteve na seleção brasileira de 1982, um dos times que jogou o futebol mais vistoso da história. Mais tarde, quando estava no São Paulo, abandonou o gramado. O futebol jamais voltaria a ver, ao vivo, os desfiles do “maior camisa 5” de todos os tempos. Tudo tem seu tempo.

Como treinador, Falcão ajudou a renovar o elenco da seleção brasileira em 1991. Na Copa América, o Brasil foi segundo colocado, perdendo o título apenas no saldo de gols para a seleção argentina, que vivia um momento diferenciado tecnicamente em sua história. Em 1993, o Inter estava em um momento difícil. Fez várias contratações, algumas de qualidade técnica duvidosa. Mesmo assim, Falcão foi o treinador e fez um trabalho razoável, mantendo o time vermelho vivo até a última rodada do campeonato nacional.

Falcão treinou a seleção japonesa. Deu sequência a apaixonante mania do futebol, que iniciou de forma mais avassaladora com Zico e invadiu por completo a terra do sol nascente. Foi técnico do América, um dos clubes mais populares do México. Em todas as suas aparições, fez trabalhos razoáveis. Não foi campeão, mas também não teve grandes fracassos, no que tange a avaliação sobre toda a realidade envolvida em cada situação. Jamais foi demitido de seus clubes e seleções.

Em determinado momento, Falcão optou por seguir carreira jornalística, sendo comentarista, colunista e agregando qualidade às informações e análises passadas para seu público, tudo graças a seu conhecimento e a busca constante pela qualificação. Como comentarista, Falcão também foi diferenciado. Neste meio tempo, buscou informação e maior conhecimento, estudou, conversou com ícones do futebol mundial e, finalmente, decidiu voltar para o futebol no campo. Agora em pé, ao lado do gramado.

Em 10 de abril de 2011, foi anunciado como treinador do Internacional. Dia 11, foi apresentado oficialmente. A partir de agora, como ele mesmo diz, perseguirá títulos e recordes. Buscará um futebol ofensivo e equilibrado, algo que vem bem ao encontro dos valores históricos do Clube do Povo do Rio Grande do Sul. O vento gélido sopra na beira do Guaíba, invade as arquibancadas e adentra o gramado. A camisa 5 tremula na casamata. A história não se apagará jamais. Falcão, o mito, agora é treinador do Internacional!

1 de abril de 2011

Clemer: do Maranhão para o mundo


Por Luciano Bonfoco Patussi
01° de abril de 2011

No início de 2002, o Internacional reformulava completamente o seu elenco de atletas. Sem títulos desde 1997, o clube necessitava dar uma resposta positiva ao seu torcedor, no menor prazo possível. Para dar segurança ao gol colorado, Carlos Germano foi contratado. Campeão da Copa Libertadores de 1998 pelo Vasco da Gama, Germano já treinava no Beira-Rio, apesar de faltar a liberação da Justiça do Trabalho, visto que o arqueiro estava em litígio com o Santos. João Gabriel, outro goleiro do elenco rubro, sofreu uma lesão. Desta forma, o Inter não poderia aguardar, ainda mais, a liberação de Carlos Germano, que já se tornava uma novela com ares dramáticos. Desistiu de sua contratação. Para reforçar o gol de forma urgente e com menor risco de errar na reposição, o Inter repassou ao Flamengo o guarda-metas Renato, jogador que não teve sucesso em sua passagem pelo Beira-Rio. Deu ainda, ao rubro-negro carioca, mais uma quantia financeira. Em troca? Clemer foi liberado pelo Flamengo e anunciado como novo reforço do Internacional em março de 2002.

Na época eu havia completado 20 anos de idade. Colorado apaixonado, fanático e louco que era, fiquei um tanto desconfiado. Não era um admirador do futebol de Clemer. Embora o arqueiro tivesse muita experiência e alguns títulos conquistados na carreira, era uma contratação que, em um primeiro momento, não me agradou. Gosto e convicção, cada um tem os seus. Certo ou errado, isso é outro assunto. A grande verdade é que o tempo passou e Clemer ganhou a confiança de boa parte dos torcedores. Até a Copa do Brasil de 2004. Nesta competição, Clemer foi expulso da partida contra o Vitória, após arremessar a bola contra um gandula que estava retardando o reinício da partida. Prejudicou o time, que foi eliminado. No instante do apito final, completamente transtornado em frente a um aparelho de televisão que, em miragem, via como um alvo convidativo à guerra, decretei: “o Inter nunca vai vencer com este goleiro”. Frases populares, como por exemplo, “nunca diga nunca”, são sábias verdades.

O tempo passou e eu posso dizer, contrariando totalmente as palavras por mim anteriormente escritas, “nunca”. Nunca esquecerei que Clemer sempre brigou pelos interesses do Internacional, acima de qualquer suspeita; nunca esquecerei da defesa praticada por Clemer, já nos acréscimos de um dramático final de partida contra a LDU, jogo este que foi um dos mais aguardados da história e que plantou, em todos os corações colorados, madrugadas inesquecíveis de angústia, esperança e paixão; nunca esquecerei dos minutos finais do jogo derradeiro contra o São Paulo, partida em que Clemer fez defesas que traziam à mente um filme retroativo sobre os anos que passei ao lado do Inter e que fez enxugar, mesmo que parcialmente, as lágrimas da decepção de 2005, sentindo o emocionante sabor de uma grande conquista; nunca esquecerei do “vai que é sua, Clemer”, nos chutes de Deco, Ronaldinho Gaúcho e companhia Ltda, em um jogo que mostrou, à todos, os valores que o vermelho e o branco do Inter representam. Inter do Rio Grande. Inter do Brasil. O Inter é o Brasil, para o mundo inteiro assistir!

Clemer Melo da Silva é um vitorioso que atropelou a desconfiança de alguns torcedores para gravar o seu nome na história. Defendeu o Inter em 354 jogos durante 8 anos como goleiro e ergueu mais de 10 troféus. Podem não gostar. Podem não simpatizar. Podem qualquer coisa. Mas é preciso reconhecer e respeitar todos os grandes momentos que o goleiro mais vitorioso da história do Inter proporcionou para todos os colorados e coloradas espalhados mundo afora. Recentemente, Clemer foi anunciado como treinador da categoria 94 das equipes juvenis do Inter, isso após curta passagem como treinador de goleiros. Só o que podemos, neste momento, é desejar sucesso nessa nova empreitada do “camisa 1” colorado, além de ficar na torcida para que ele possa alcançar os seus sonhos. Agora, como treinador de futebol.

PRINCIPAIS TÍTULOS DE CLEMER NO INTER

Copa do Mundo de Clubes: 2006.
Copa Libertadores da América: 2006.
Copa Sul-Americana: 2008.
Recopa Sul-Americana: 2007.
Campeonato gaúcho: 2002, 2003, 2004, 2005, 2008 e 2009.

Além destes títulos, Clemer ajudou o Inter na conquista da Dubai Cup em 2008, nos Emirados Árabes Unidos, e ganhou ainda a Suruga Cup em 2009, no Japão. Foi o preparador de goleiros do time colorado na conquista do bicampeonato da Copa Libertadores da América em 2010. Agora, a nova jornada deste vitorioso cidadão, que saiu do Maranhão para conquistar o mundo, será na casamata, comandando a equipe juvenil do Internacional. Sucesso, Clemer! A nação colorada agradece por toda a colaboração que prestaste nos grandes títulos recentes da história do Clube do Povo do Rio Grande do Sul!