1 de abril de 2011
Clemer: do Maranhão para o mundo
Por Luciano Bonfoco Patussi
01° de abril de 2011
No início de 2002, o Internacional reformulava completamente o seu elenco de atletas. Sem títulos desde 1997, o clube necessitava dar uma resposta positiva ao seu torcedor, no menor prazo possível. Para dar segurança ao gol colorado, Carlos Germano foi contratado. Campeão da Copa Libertadores de 1998 pelo Vasco da Gama, Germano já treinava no Beira-Rio, apesar de faltar a liberação da Justiça do Trabalho, visto que o arqueiro estava em litígio com o Santos. João Gabriel, outro goleiro do elenco rubro, sofreu uma lesão. Desta forma, o Inter não poderia aguardar, ainda mais, a liberação de Carlos Germano, que já se tornava uma novela com ares dramáticos. Desistiu de sua contratação. Para reforçar o gol de forma urgente e com menor risco de errar na reposição, o Inter repassou ao Flamengo o guarda-metas Renato, jogador que não teve sucesso em sua passagem pelo Beira-Rio. Deu ainda, ao rubro-negro carioca, mais uma quantia financeira. Em troca? Clemer foi liberado pelo Flamengo e anunciado como novo reforço do Internacional em março de 2002.
Na época eu havia completado 20 anos de idade. Colorado apaixonado, fanático e louco que era, fiquei um tanto desconfiado. Não era um admirador do futebol de Clemer. Embora o arqueiro tivesse muita experiência e alguns títulos conquistados na carreira, era uma contratação que, em um primeiro momento, não me agradou. Gosto e convicção, cada um tem os seus. Certo ou errado, isso é outro assunto. A grande verdade é que o tempo passou e Clemer ganhou a confiança de boa parte dos torcedores. Até a Copa do Brasil de 2004. Nesta competição, Clemer foi expulso da partida contra o Vitória, após arremessar a bola contra um gandula que estava retardando o reinício da partida. Prejudicou o time, que foi eliminado. No instante do apito final, completamente transtornado em frente a um aparelho de televisão que, em miragem, via como um alvo convidativo à guerra, decretei: “o Inter nunca vai vencer com este goleiro”. Frases populares, como por exemplo, “nunca diga nunca”, são sábias verdades.
O tempo passou e eu posso dizer, contrariando totalmente as palavras por mim anteriormente escritas, “nunca”. Nunca esquecerei que Clemer sempre brigou pelos interesses do Internacional, acima de qualquer suspeita; nunca esquecerei da defesa praticada por Clemer, já nos acréscimos de um dramático final de partida contra a LDU, jogo este que foi um dos mais aguardados da história e que plantou, em todos os corações colorados, madrugadas inesquecíveis de angústia, esperança e paixão; nunca esquecerei dos minutos finais do jogo derradeiro contra o São Paulo, partida em que Clemer fez defesas que traziam à mente um filme retroativo sobre os anos que passei ao lado do Inter e que fez enxugar, mesmo que parcialmente, as lágrimas da decepção de 2005, sentindo o emocionante sabor de uma grande conquista; nunca esquecerei do “vai que é sua, Clemer”, nos chutes de Deco, Ronaldinho Gaúcho e companhia Ltda, em um jogo que mostrou, à todos, os valores que o vermelho e o branco do Inter representam. Inter do Rio Grande. Inter do Brasil. O Inter é o Brasil, para o mundo inteiro assistir!
Clemer Melo da Silva é um vitorioso que atropelou a desconfiança de alguns torcedores para gravar o seu nome na história. Defendeu o Inter em 354 jogos durante 8 anos como goleiro e ergueu mais de 10 troféus. Podem não gostar. Podem não simpatizar. Podem qualquer coisa. Mas é preciso reconhecer e respeitar todos os grandes momentos que o goleiro mais vitorioso da história do Inter proporcionou para todos os colorados e coloradas espalhados mundo afora. Recentemente, Clemer foi anunciado como treinador da categoria 94 das equipes juvenis do Inter, isso após curta passagem como treinador de goleiros. Só o que podemos, neste momento, é desejar sucesso nessa nova empreitada do “camisa 1” colorado, além de ficar na torcida para que ele possa alcançar os seus sonhos. Agora, como treinador de futebol.
PRINCIPAIS TÍTULOS DE CLEMER NO INTER
Copa do Mundo de Clubes: 2006.
Copa Libertadores da América: 2006.
Copa Sul-Americana: 2008.
Recopa Sul-Americana: 2007.
Campeonato gaúcho: 2002, 2003, 2004, 2005, 2008 e 2009.
Além destes títulos, Clemer ajudou o Inter na conquista da Dubai Cup em 2008, nos Emirados Árabes Unidos, e ganhou ainda a Suruga Cup em 2009, no Japão. Foi o preparador de goleiros do time colorado na conquista do bicampeonato da Copa Libertadores da América em 2010. Agora, a nova jornada deste vitorioso cidadão, que saiu do Maranhão para conquistar o mundo, será na casamata, comandando a equipe juvenil do Internacional. Sucesso, Clemer! A nação colorada agradece por toda a colaboração que prestaste nos grandes títulos recentes da história do Clube do Povo do Rio Grande do Sul!
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