15 de setembro de 2008

ÍDOLOS DO INTER - Independentemente das conquistas

Como se forma um ídolo em um clube de futebol? Depende. Em se falando de ídolos do Inter, minha opinião pessoal é de que um ídolo é quem veste a camisa e marca sua passagem conquistando títulos, honrando a camisa e a tradição do clube. Ídolo é o jogador que sempre sua a camiseta e joga demais. Lógico que um ídolo com títulos transforma-se em um mito do clube, alguém incontestável independentemente da época em que vestiu vermelho – falando-se exclusivamente de Inter. Mas se o atleta faz tudo pelo clube, sempre com raça, técnica e qualidade, também se torna ídolo, independentemente das taças conquistadas. Isso porque a história do Internacional não é resumida, apenas, aos seus grandes títulos.

Particularmente, passei a acompanhar o Internacional por volta de 1992 e 1993. Em 1992, a temporada para o Inter foi muito boa. De 1993 já não se pode dizer o mesmo. A única lembrança que eu tinha, antes dessa época, era de carreatas azuis. Eu perguntava aos meus pais o motivo de muitos estarem nas ruas acionando a buzina de seus carros e balançando bandeiras azuis, pretas e brancas. Me respondiam que o Grêmio tinha ganho. Isso era o motivo do buzinaço. E só o Grêmio ganhava. Ganhava somente campeonatos estaduais, mas isso não interessa. Só eles ganhavam. Porém, em 1992, vi o Inter ganhar a Copa do Brasil e o campeonato gaúcho. Dois títulos em uma semana. Foi sensacional. E formaram-se ídolos, como Fernandez, Célio Silva, Élson, Marquinhos, Maurício e Gérson. Aí comecei a acompanhar futebol. Comecei a ler história. Ir ao Beira-Rio. Comecei, então, a entender o real significado das cores e de cada clube gaúcho. Enfim, comecei a torcer pelo Internacional.

Tenho lembranças vagas do início de 1993, onde o Inter foi eliminado da primeira fase da Libertadores da América, e onde também perdeu a Copa do Brasil para o Londrina dentro do Beira-Rio e nas oitavas de finais. A partir dessas derrotas, estava definido meu futuro dentro do futebol: Tornei-me um fanático torcedor colorado. E veio o campeonato brasileiro de 1993. Esse foi o primeiro campeonato que acompanhei com vontade, fanatismo, amor e assiduidade. Para mim, Falcão era o melhor treinador e, junto a Adílson, Élson, Caíco, Nando e Paulinho McLaren, seriam campeões do campeonato brasileiro. Isso não aconteceu. Para falar a verdade, faltou muito para isso acontecer.

Correram os anos, surgiu o amanhã. O futuro chegou em 1995. O maior ídolo colorado que eu viria, ao vivo e a cores, estava chegando. Naquela temporada, vi de tudo. As ruas foram tomadas de azul, com a conquista tricolor na Copa Libertadores. Poucos dias depois, o Gigante da Beira-Rio estava lotado. Era o Inter em campo, contra o Santos. Estádio lotado, grande vitória colorada. Comandado pelo centro-avante Leandro Machado e pelo meio-campista Caíco, jovens talentosos da época, o Inter fazia quatro gols no time do Santos, que era um grande time e marcara apenas dois “tentos” naquela partida. Eu achava que os dois jogadores citados anteriormente eram os maiores que eu havia visto no Inter. Maiores que os campeões do Brasil de 1992.

Entretanto, poucos dias depois, desembarcava no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, um paraguaio, com a fama de quem se tornaria um mito: Carlos Alberto Gamarra Pavón. Ou simplesmente Gamarra. Zagueiro da seleção paraguaia. Ainda jovem, o atleta chegou ao Beira-Rio com a aprovação de toda imprensa paraguaia. Teve um conhecido brasileiro, entendedor de futebol, que disse que Gamarra lembraria o futebol apresentado por Figueroa, o lendário craque chileno da zaga colorada dos anos 70. Se não me engano, quem disse isso foi Paulo César Carpegiani. Estava criada a expectativa. E o Beira-Rio estava lindo e com mais de 40.000 apaixonados torcedores em uma tarde ensolarada daquele longínquo 1995, para acompanhar a estréia de “El Colorado”, ou simplesmente Gamarra. No primeiro lance da partida contra o Goiás, um atacante goiano avançou pela ponta-direita, adiantando demais a bola. Gamarra antecipou-se ao lance e aplicou um balãozinho, ao estilo de lance que “penteou” o adversário. Saiu limpo na jogada. Todos se levantaram nas arquibancadas do Gigante da Beira-Rio e aplaudiram o lance em pé. A jogada levou os jovens colorados ao êxtase. Os mais experientes torcedores, por sua vez, tiveram lapsos de lembrança do grande e lendário time colorado dos anos 70. Assim foi a estréia de Gamarra.

Resumindo toda história descrita acima: Gamarra saiu do Inter em 1997. Em dois anos de Inter, temporadas nas quais o Grêmio levantou muitos títulos, Gamarra foi campeão gaúcho apenas uma vez, em 1997 – ano no qual era capitão do time colorado. Teve campanhas medianas no campeonato brasileiro. Mas tornou-se ídolo. Era um jogador que jogava uma partida muito bem. No jogo seguinte, jogava melhor. No outro, melhor ainda.

O tempo passou. Passei curtindo minha vida de colorado. Correram os anos. Muito sofrimento e amor pelo time vermelho da Beira-Rio. Até os anos de 2003 e 2004, Gamarra seguia sendo o maior jogador que eu, particularmente, havia visto no Inter. Uma lenda da zaga. Um craque. Símbolo de raça. Um mito. Depois, vieram jogadores como Librelato, Tinga, Sóbis, Iarley, Fernandão, entre tantos outros. Anos de ouro, incomparáveis. Todos os atletas citados anteriormente são ídolos e mitos do Internacional, talvez, maiores que aquele Gamarra dos anos de 1995, 1996 e 1997. Porém, até 2003 ou 2004, Gamarra foi o maior. Foi maior que Christian, Fabiano, Rockembach, Lúcio ou Daniel Carvalho. Gamarra foi craque da zaga. Foi raçudo e técnico. Um exemplo a ser seguido.

Escrevo este texto na madrugada de domingo para segunda-feira, 15 de setembro de 2008. Já é mais de meia-noite. Hoje é aniversário do eterno rival Grêmio. Seus verdadeiros torcedores e seguidores estão de parabéns pela passagem dos seus cento e cinco anos de existência do seu clube do coração. Uma existência que engrandece o Inter, diga-se de passagem. E o contrário é verdadeiro, vale lembrar. Ontem, acompanhei uma bela apresentação do Inter, no também belo estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro. A partida de ontem, contra o Botafogo, só não foi mais bela que a atuação de Guiñazú. Guiñazú é como Gamarra no Inter. Um comparativo perfeito. A cada partida, joga melhor e honra a camisa. Vemos uma partida ótima de Guiñazú, para outros dois jogos muito bons. Volta a jogar bem, e no outro jogo, volta a ser o melhor em campo. Arrisco dizer que, depois de Falcão, Guiñazú é camisa 5 que mais honra a tradição colorada deste número de uniforme, sem querer comparar ambos – que são incomparáveis. Desta mesma forma, depois de Figueroa, o zagueiro que melhor se empenhou dentro da zaga colorada, foi Gamarra. Foi melhor que Fabiano Eller e Índio. Assim como Guiñazú é melhor que Edinho e Wellington Monteiro, campeões mundiais.

Guiñazú foi campeão gaúcho em 2008. Foi um grande título, no qual derramei lágrimas nas arquibancadas, em um misto de raiva, emoção e deboche que só um colorado pode entender o que significou. Guiñazú poderá se tornar campeão brasileiro, da Copa Libertadores e do mundial interclubes com o Internacional. Entretanto, poderá sair do Beira-Rio dentro de umas duas ou três temporadas, sendo apenas uma vez campeão gaúcho. Porém, se apresentar sempre o nível de atuações que vem apresentando, partida após partida, será um ídolo histórico do Internacional. Assim como Gamarra foi em 1995 e 1997. Como é bom ser colorado e ver verdadeiros guerreiros, como Gamarra e Guiñazú, honrando o manto sagrado da melhor forma possível. Técnica, qualidade, raça e respeito à camiseta e ao torcedor. Assim foi Gamarra. Assim é Guiñazú. Hoje, depois da atuação de Guiñazú contra o Botafogo, tive que escrever. Não resisti mais.

Fica aqui uma singela homenagem a estes dois verdadeiros ídolos. Um, no passado, foi somente campeão gaúcho. Outro, no presente, ainda tem uma bela caminhada pela frente. É esperar para ver. Se o Internacional vir a vencer o campeonato brasileiro ou a Copa Libertadores entre 2009 e 2010, esta taça virá a coroar Guiñazú e sua passagem destacada nos gramados do Brasil. Entretanto, se neste mesmo período, o Inter não vencer absolutamente nada, mas Guiñazú seguir jogando neste nível, estará este atleta, em meu particular entendimento, na galeria dos grandes ídolos que vi atuar no Inter.

Luciano Bonfoco Patussi
15 de Setembro de 2008

1 de setembro de 2008

INTER - Contra a Portuguesa: 1995, 1997 e 2008.

1995. Campeonato brasileiro. Penúltima rodada. A Portuguesa pisou no Gigante da Beira-Rio, diante de 70.000 torcedores. Uma vitória colorada classificaria o time para as semifinais do certame daquele ano. Entretanto, a derrota em casa praticamente terminou com as chances coloradas, que viu a equipe, após essa derrota, degringolar ladeira abaixo no campeonato. Os 70.000 fiéis ficaram incrédulos. Foram 90 minutos de apoio intenso que de nada adiantaram. Vieram os protestos. Vaias e xingamentos. Nada mais justo.

Correram os anos. Surgiu o "amanhã". Estávamos em 1997. A Portuguesa “pisou” no Beira-Rio, em uma noite de quinta-feira. Uma multidão colorada apoiou o tempo inteiro e a equipe colorada venceu a esquadra rubro-verde paulistana. Aos poucos, consolidava-se a liderança vermelha, na luta pelo título - que acabou não chegando.

Independentemente do momento do time ser positivo ou negativo, o torcedor colorado podia ser taxado de tudo naqueles tempos: Sofredor. Pé-frio. Apaixonado. Corneteiro. Fanático. Único. Inigualável. Mas jamais passivo. Jamais! Por não ser passivo, torcedor, é que o Inter jamais caiu! Por ser um torcedor ativo é que, além de nunca deixarmos o Inter cair, vimos o mesmo crescer dentro e fora de campo e conquistar títulos. Muitos títulos.

A hora é de apoiar em campo. Apoiar qualquer um que estiver vestindo vermelho. Ajudar a vencer a partida. Por outro lado, a hora é de cobrar. É de cobrar muito! Ninguém deve ser "palhaço" de uma diretoria, a ponto de ver o clube ir ao topo do mundo em 2006 e, em pouco tempo, ver o futebol cair drasticamente de produção, após uma série de trapalhadas administrativas encabeçadas por um senhor que estava - e ainda está - despreparado para assumir o cargo máximo do Clube do Povo.

Em 2008, Inter e Portuguesa se reencontrarão no Beira-Rio. E "se" empatarmos ou perdermos? Após apoiar os 90 minutos, nada mais justo que encher de xingamentos quem mais merecer. Presidente. Vice de futebol. Treinador. Alguns jogadores. Preparador físico. Vale faixas, cânticos. Seja na arquibancada, seja no "Portão 8". A torcida tem que ser "ativa". Devemos mostrar que ninguém é "palhaço" dessa gestão de futebol atrapalhada.

Mas e se vencermos? Bom, aí é hora de pés no chão. Será hora de aplaudir o time em campo, mas sem deixar de cobrar. E se for preciso, temos que xingar a todos aqueles que merecerem, mesmo com a vitória que poderá ocorrer. Porquê isso? Simplesmente para mostrar que essa torcida tem sangue. Tem coração. Tem fibra. Não é qualquer torcedor que já passou o que um colorado sentiu durante anos de mediocridade futebolística.

A camisa vermelha e a "cachaça" na mão, mas com os pés no chão. É só isso que o momento e a realidade do Inter nos permitem. Somente pés no chão e a sensação de que vem aí um sábado no qual cumpriremos nosso dever . Um dever que, dentro de campo, vem sendo deixado em segundo plano, há tempos!

Sábado, final de tarde, Beira-Rio, Internacional em campo. A Portuguesa será a adversária. A mesma Portuguesa de 1995 e 1997. Esperamos que a torcida seja a mesma daqueles tempos também! Só depende de nós! Força, torcedor! Força, Inter!