15 de fevereiro de 2009

A salvação de uma vencedora e colorada geração

Por Luciano Bonfoco Patussi
15 de fevereiro de 2009
http://www.supremaciacolorada.com/

O Gigante da Beira-Rio é tomado por uma imensa multidão. A dificuldade e a derrota imposta no jogo de ida das semifinais do gauchão dão àquela partida um tom tenso e decisivo. O Internacional precisava dar uma resposta ao seu apaixonado seguidor. Os portões do estádio foram abertos, gratuitamente, à massa torcedora. E a “galera” correspondeu. Lotou o estádio, que devia ter aproximadamente sessenta mil torcedores naquela tarde de segunda-feira. O Inter precisava vencer e voltar a decidir – e ganhar – um título. O ano era 1997. O “Colorado” esmagou o Veranópolis, no tempo normal e também na prorrogação. Na decisão, venceu o forte rival Grêmio, que era o atual campeão brasileiro e da Copa do Brasil. Além de voltar a conquistar um título, o Inter evitou o tri-campeonato gaúcho consecutivo do seu tradicional adversário.

Aqueles tempos eram assim. Entre um título gaúcho e outros dois ou três fracassos regionais, víamos cerca de cinco ou seis campanhas medíocres em campeonato brasileiro sendo compensadas com uma campanha de sucesso – quando, com muito esforço, chegávamos no máximo ao terceiro lugar – e achávamos isso ótimo! Copa Libertadores? Era um sonho que, na impossibilidade da disputa, desdenhávamos – como muitos fazem hoje com nossas grandes campanhas. Nós vislumbrávamos e merecíamos uma maior regularidade. Nós torcemos por um time que ocupou o posto de maior campeão do país ao final da década de 1970. Por qual motivo tínhamos que passar por tanto sofrimento? Por tantas derrotas? Aquilo tudo foi uma provação. E por isso, perdemos boa parte de uma geração de torcedores! Na verdade, quem perdeu mais foi quem abandonou o barco. Nós e eles perdemos. Mas tenha certeza, eles perderam mais! Na verdade, quem abandonou o barco não era digno de vestir o vermelho do nosso manto sagrado!

Mas esse sofrimento todo ocorreu porque nós tínhamos que estar preparados para o que estava por vir. Nós precisávamos saber o verdadeiro sentido de ser colorado. E para isso tivemos que sofrer. Por amor. Por paixão. Ser colorado é ter o sangue vermelho pulsando nas veias, independentemente dos resultados obtidos em campo. Ser colorado é torcer pelo “Clube do Povo”, popular desde 1909. Ser colorado é dar vida própria às arquibancadas e às cadeiras do Gigante da Beira-Rio em dia de jogo - seja amistoso ou decisivo. Ser colorado é inexplicável, é um sentimento único, é vibrar e defender o vermelho até debaixo d’água. Até a morte. Até depois dela! Ser colorado é vestir vermelho todos os dias e mostrar para o mundo inteiro o que é ser Internacional!

Mas nós precisávamos passar por mais uma provação de devoção. Antes mesmo do salto de qualidade proporcionado pela nossa diretoria, tivemos, talvez, a maior decepção das nossas vidas enquanto fanáticos torcedores: a derrota, da forma como aconteceu, no campeonato brasileiro de 2005. Aquilo estragou, para muitos, aquela temporada. Aquele acontecimento feriu o sentimento de uma justiça que jamais vimos ocorrer em campo. O mínimo que poderia ter sido feito era o reconhecimento nacional de um título conquistado nos gramados, mesmo com erros próprios na escalação do time, partidas jogadas de forma inadequada, entre outros fatores. A taça era para ser nossa. O Brasil sabe disso. Houve desânimo momentâneo. E com razão. Não sabíamos como apelar. Apelamos para o vermelho e para as arquibancadas. Foi o melhor que podíamos fazer. E foi a melhor decisão a ser tomada!

Aqueles fatos que hoje por muitos foram esquecidos ou simplesmente guardados no fundo de um velho baú atirado em um sótão de uma velha casa abandonada, nos deixaram com um sentimento misto de tristeza, impotência e frustração. Mas nada nos derrotou. O Beira-Rio estava lá, como sempre, nos aguardando. E lá fomos nós. Voltamos em 2006 mais fortes do que nunca e o vimos o time colorado dar o tão sonhado salto de qualidade que era necessário. Era preciso. Acabamos fazendo história. E que história! Naquele 16 de agosto e 17 de dezembro, o Internacional proporcionou para o mundo inteiro um apaixonante espetáculo de luta, garra, qualidade, frieza e competência. Copa Libertadores da América e Copa do Mundo. Juntas! Paixão e emoção. Lágrimas e sentimento de alegria indescritível. Estava explicado o motivo pelo qual passamos por tanto sofrimento. Se nós não tivéssemos vivido cada momento de turbulência ao lado do time colorado e se não estivéssemos sempre vestidos de vermelho, provavelmente não sobreviveríamos a emoção proporcionada pelo 16 de agosto de 2006. Tão pouco pelo 17 de dezembro.

Hoje a mentalidade mudou. Alcançamos cerca de oitenta mil sócios em dia – o que nos torna um dos dez ou quinze clubes com maior número de associados no mundo. Alcançamos títulos memoráveis e inéditos. Consideramos “meia-boca” um ano onde: vencemos o campeonato gaúcho contra o Juventude, marcando oito gols na final e “rasgando” uma touca verde que hoje é invisível e desconhecida – enterrando assim uma pseudo-rivalidade; vencemos a charmosa Copa Dubai, um torneio amistoso, porém, de muita importância, o qual contou com a presença de Stuttgart, Ajax e Internazionale de Milão – com os alemães e italianos sendo derrotados pelo Inter de forma indiscutível; por fim, vencemos a Copa Sul-Americana, contra o tradicional, qualificado e guerreiro Estudiantes de La Plata, que lutava para voltar a dar uma volta olímpica continental após quase quarenta anos de jejum. Sim, este 2008 que passou foi um ano medíocre, na visão de muitos de nós, inclusive na minha. Mas isso é ótimo. Isso é importantíssimo. É muito bom acharmos que foi um ano medíocre!

Esses fatos provam que o pensamento do clube mudou. O torcedor mudou. Hoje, lutamos por títulos. Os atletas contratados para fazer parte do elenco do Internacional chegam à Porto Alegre dando entrevistas, onde dizem ter optado por vir para o Inter para conquistar títulos e agradecendo a estrutura oferecida à eles. Antigamente, um novo jogador que era apresentado ao torcedor, chegava falando em orgulho por vestir uma tradicional e bonita camisa vermelha. E nada mais. Nenhuma menção a alguma competição ou vontade de ser campeão. Aquilo causava tristeza. Tudo mudou. Os tempos mudaram. Nós mudamos. Hoje o Inter é referência mundial.

Neste ano, comemoraremos o centenário colorado. Este 2009 promete muita emoção para o torcedor. Só temos a agradecer o que cada jogador faz em campo. É verdade dizer que eles ganham – e muito bem – para fazer as coisas acontecerem. Mas antigamente, quem por aqui estava também recebia bem e nada fazia. Hoje, só temos que torcer e idolatrar Índio, Álvaro, Kleber, Guiñazú, Magrão, D’Alessandro, Taison, Alex, Nilmar e todos os outros jogadores do Inter. Todos têm qualidade. São eles que quando entrarem em campo – contra o Avenida, o Caxias, o Grêmio, o São Paulo, o Boca Juniors ou qualquer outro time – continuarão sendo responsáveis por salvar uma inteira geração de torcedores, evitando com que passem o mesmo que muitos torcedores sofreram em tempos de dificuldade.

Estes jogadores são os responsáveis por lutar e ganhar cada Gre-Nal, aumentando mais ainda a vantagem histórica de vitórias do Inter no clássico. São estes jogadores os responsáveis por trazer mais títulos para o Internacional. São estes atletas os responsáveis por tornar o Inter cada vez mais forte e vencedor. São eles que, vestindo o manto vermelho com orgulho, vão fazer mais torcedores tornarem-se sócios, para que o Inter mantenha o elevado padrão de qualidade dos últimos anos. Assim nossa torcida, que sempre foi grande – e a maior do Rio Grande do Sul por cerca de oitenta anos – vai ser cada vez maior. Isso porque novas gerações de torcedores nascem todos os dias querendo vencer. E nascendo uma nova geração vencedora, a tendência é que venhamos a recuperar em pouco tempo a única coisa que nos falta voltar a ter o gosto de gritar para o mundo inteiro ouvir: precisamos – e vamos conseguir – voltar a ser a maioria esmagadora de torcedores do Rio Grande do Sul – como fomos por cerca de setenta ou oitenta anos, sem discussão. Hoje há discussão quanto a isso. Antigamente não havia. E assim vai voltar a ser, tomara!

Vamos seguir neste padrão, cobrando nossos jogadores e apoiando-os nas partidas. As pesquisas de número de torcedores que forem realizadas daqui cinco ou dez anos tendem a ser animadoras para nós colorados. Eu já estou vendo os resultados nas ruas. Mas a tendência é melhorar. Aos jogadores que hoje vestem o manto vermelho, além do carinho do torcedor, do dinheiro na conta e da estrutura que lhes é fornecida para trabalhar, fica o recado e o desafio: vocês e a diretoria, juntamente com nós torcedores, somos os responsáveis por fazer o Inter crescer cada vez mais em todos os sentidos. Sintam e vivam este clube como sentem o seu coração pulsar. Vocês jogadores, diretores e nós torcedores, estaremos todos na história!

Este é um ano histórico: 2009. Nele, lutaremos por mais um título gaúcho, por mais uma Copa do Brasil, por mais uma Recopa, por mais uma Copa Sul-Americana, por mais um campeonato brasileiro. O gostinho de quero mais é muito melhor quando sabemos do potencial que temos. É diferente de uma década atrás. Agora é ir para o campo, esquecer o favoritismo, respeitar todos os adversários sem temê-los, ir para cima, vencer, tentar e buscar até o último minuto de cada decisão ser campeão. Foi assim com o Rolo Compressor, com o Rolinho, com o Time da Década, com o Esquadrão Vermelho. Assim será com o time de 2009.

Os jogadores citados anteriormente neste texto tem qualidade suficiente para manter o Inter favorito em tudo e campeão quando possível. Esse time tem como missão principal seguir salvando uma inteira geração de apaixonados torcedores – assim como você e eu! E eles vão conseguir! Continuem se “matando” em campo em todos os Gre-Nais. Em todas as decisões. Vençam! Mais do que campeões, vocês serão lembrados para sempre como heróis de uma inteira nação de cinco ou seis milhões de seguidores - e que será cada vez maior!

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