6 de abril de 2009

QUATRO DÉCADAS DE VIDA NA BEIRA DO RIO

Por Luciano Bonfoco Patussi
06 de Abril de 2009
lbpatussi@yahoo.com.br
www.supremaciacolorada.com

Caro leitor, gostaria de lhe propor o seguinte: vamos viajar juntos no tempo por alguns parágrafos e recordar fatos que fazem a grandeza do dia de hoje? Então vamos lá. Primeiramente tomamos um táxi e chegamos na Avenida Beira-Rio. O silêncio impera nesta noite escura e o vento um tanto gelado que sopra da beira do rio, faz esta madrugada parecer inverno por uns instantes. Descemos do veículo. Eu propus o passeio no tempo, portanto faço ao motorista o pagamento. Ele vai embora, mas a sensação é de que ele queria ir junto conosco. Ele leva consigo, colado no painel do seu carro – um gol vermelho, uma foto antiga e em cores tão vivas quanto as cores do espetáculo que o pôr-do-sol do Rio Guaíba proporciona todos os dias, ao entardecer, aos porto-alegrenses. Na foto, um estádio de futebol visto de cima, lotado de pessoas. Abaixo da foto a descrição “Lembranças de 6 de abril de 1969”.

Já no pátio do estádio, você leitor e eu, caminhamos alguns metros vagarosamente e nos deparamos, boquiabertos, com uma nave espacial. Da espaçonave construída com incontáveis metros cúbicos de concreto e movida a amor de milhões de corações rubros espalhados pelo mundo afora, surge uma forte luz que ofusca nossa visão. Essa luz logo toma a forma de uma densa névoa. Poderiam ser os sinalizadores da torcida colorada saudando a entrada de seus ídolos eternos em campo. E em um piscar de olhos, nos deparamos, você e eu, juntos dentro dessa nave.

E lá dentro, ainda é possível ouvir a torcida colorada cantando mais uma vitória em Gre-Nal. Uma vitória importante e histórica, que elimina do campeonato gaúcho o mais tradicional adversário do Internacional. Eu imaginava que a torcida, neste horário, já tivesse ido embora. E na verdade já foi. Mas o Gigante da Beira-Rio tem vida própria. A alma colorada está sempre presente dentro do estádio. E em mais um piscar de olhos, uma nova névoa paira sobre as arquibancadas. Essa é mais densa ainda. Vemos o rosto de defensores argentinos fecharem com um ar fúnebre e desesperador. A rede balançou em um momento mágico onde cantávamos juntos um “nós viemos aqui só pra ver o gol do Nilmar”.

Caminhamos um pouco nas arquibancadas e vemos um tumulto. Desespero. Injustiça. O árbitro da partida está expulsando um jogador colorado. Pois neste momento, abraçados, recordamos. Afinal de contas, “não podemos esquecer o gol do Tinga marcado em uma noite de alegria, naquele 16 de agosto”. Então neste momento você aponta para o centro do gramado. Lhe chama a atenção Mahicon Librelato. Ele está sentado no campo de jogo. De camisa vermelha, ele chora copiosamente e diz que quer ficar no Inter, mesmo em caso de queda para a série B do campeonato nacional. Derramamos lágrimas junto a ele. Mas ele nos ajudou longe da nossa casa e hoje olha por nós logo acima da nossa sacada, a marquise da "Maior e Melhor Torcida do Rio Grande".

Em questão de segundos, agora sou eu quem chamo sua atenção e aponto para a outra goleira. Nela, a tensão era do tamanho do planeta naquele lance decisivo e único. Celso cobrou aquela falta como jamais ele poderia pensar que conseguiria. Vemos Dunga sendo abraçado por todos. A torcida é uma loucura. O Gigante da Beira-Rio ferve. E não há tempo sequer para respirar, pois neste exato momento, Enciso descola um passe preciso para Fabiano desferir um potente chute. Até hoje visualizo a bola do jogo, o Danrlei e o Cacalo juntos, abraçados em puro desgosto dentro daquela goleira do “Uh, Fabiano”, balançando a rede e o torcedor colorado.

Eis que surge um momento de dramaticidade. Eu não vi, mas você me mostrou algo que se destaca no campo. Cadê a marca do pênalti da goleira que fica próxima ao torcedor adversário que visita nosso estádio? A marca da cal, aproximadamente um quilo de grama e terra, mais a bola do jogo, estão neste momento juntas, dentro da goleira. Célio Silva está rodeado por jogadores que marcaram época. Junto à ele, Nilson. O goleador acaba de trazer a torcida mais alegres emoções. Um gol atrás do outro e o Gre-Nal do século poderia ser chamado de Gre-Nal do milênio, ou algo deste gênero.

Neste exato momento bate-nos uma tradicional “bobeira”, pois já está tarde. Mas um “Inter, Inter, Inter” entoado pela alma colorada acaba por nos acordar para uma nova recordação. Então vemos Geraldão fazer nossa alegria com gols decisivos em tempos difíceis. Fui ao bar rapidamente buscar uma cerveja e perdi o golaço marcado por Falcão, dando números finais à última partida disputada na década de 1970 pelo maior campeão brasileiro daquela época.

Mas voltei da copa em tempo de ver Dario ajudando a estraçalhar nosso mais tradicional adversário, nos fazendo vibrar com o octa-campeonato gaúcho. Como que em um passe de mágica, vemos Valdomiro com maestria dar números finais a uma partida que decidiu que a taça do campeonato brasileiro de 1976 ficaria com o melhor time do mundo daquela época.

Sinto neste momento a sensação de que está amanhecendo. Raios de sol cobrem o nosso pensamento. Mas aos poucos eles vão desaparecendo, um por um. Fica somente um facho, que é visto, tal qual um cometa, por volta dos dez minutos do segundo tempo do jogo que Figueroa marcou de cabeça o gol que escreveu seu nome na história.

É quase hora de ir embora. Antes podemos vibrar juntos com Claudiomiro, que fez as almas da arquibancada viva do Beira-Rio explodirem de emoção pela primeira vez na história. Faz quarenta anos. Está tarde. É hora de pegarmos o táxi de volta para a nossa segunda casa, isso porque a primeira casa de todos nós está em festa hoje. Haja o que houver, o Beira-Rio estará sempre pronto para nos receber, a qualquer hora e a qualquer dia. Seja para torcer pelo time. Seja para ir ao treino. Ou seja para viajar no tempo como hoje fizemos, você leitor e eu. Foi bom ter estado contigo, caro leitor, nesta espaçonave do tempo e das glórias.

Gigante da Beira-Rio. Quarenta anos de história. Seis de abril de 1969. Uma data que mudou para sempre a história do futebol gaúcho! Parabéns para todos os colorados, pois nossa casa está de aniversário. E ela está linda, aconchegante e cada vez mais renovada. Podemos nela vislumbrar novos sonhos a cada novo dia e, como diz o ditado, "o bom filho a casa torna". Quero dizer, no próximo jogo, todos ao quarentão Gigante da Beira-Rio. Volte para sua casa! Ela está sempre a nossa espera para nos trazer alegres emoções. E ela gosta disso, porque somos nós torcedores quem damos vida própria à ela. Nós e a nossa história.

2 comentários:

Luciano disse...

http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=29755&tid=5321423059081328480&na=4

Anderson Rosso disse...

Grande Luciano, mais uma vez parabéns!!! Seus textos são ótimos. Abraços

Anderson Rosso