27 de maio de 2010

Opinião: sequência de trabalho para Jorge Fossati

Por Luciano Bonfoco Patussi
27 de maio de 2010

Nesta noite, o Internacional enfrentará o Vasco da Gama no estádio São Januário, no Rio de Janeiro. Este confronto, independentemente do momento que as equipes atravessam, é um dos maiores clássicos interestaduais da história do futebol brasileiro. Atualmente, o Vasco da Gama, que volta a jogar na primeira divisão nacional, enfrenta momentos de avaliações internas, na busca por uma campanha de afirmação. Isso quer dizer que, aos poucos, o clube busca o resgate da confiança que transformou a entidade em uma das maiores agremiações esportivas do mundo. Sob o comando de Celso Roth, os vascaínos lutarão pela vitória, o que representaria seu primeiro triunfo no campeonato brasileiro de 2010.

Pelos lados do Beira-Rio, o momento é de buscar afirmação em um trabalho que é contestado por parte da imprensa gaúcha e por uma parcela do torcedor colorado. Particularmente, vejo que o momento não é de mudanças no comando técnico do Inter, mas respeito às opiniões contrárias. O atual momento é de buscar afirmação. É lógico que é preciso, dia após dia, haver avaliação do trabalho realizado, tais como verificar o desempenho do time, os objetivos alcançados, as carências no elenco, as possibilidades de reforços, entre outros aspectos diversos. No início da temporada 2010 foi definido pelos responsáveis do futebol do Internacional que a comissão técnica seria uruguaia, comandada por Jorge Fossati. Mais do que isso, todos os dirigentes destacaram que o projeto para 2010 era vencer a Copa Libertadores da América, ou pelo menos entrar forte nesta competição, alcançando os resultados e buscando chegar ao topo. Para isso Jorge Fossati foi contratado. Entretanto, embora muitos torcedores, inclusive eu, às vezes possamos ficar insatisfeitos com uma ou outra má jornada do time, ou ainda com alguma escalação que não é de nosso agrado, é preciso refletir.

No ano de 2009 temos um exemplo dado pelo nosso vizinho, sobre com não proceder. É bem verdade que o Grêmio jogou aquela Libertadores, até às quartas-de-final, contra adversários sem grande tradição no cenário esportivo sul-americano. Mas quem joga Libertadores sabe das dificuldades que podem ser impostas por qualquer adversário. Após três derrotas no gauchão, em clássicos contra o Inter, a diretoria tricolor, que fazia discurso de que tinha foco na Libertadores, demitiu Celso Roth, que o destino colocou como adversário colorado hoje à noite. O tricolor iniciou o ano com um foco, perdeu clássicos regionais em sequência, mas alcançava seus resultados na Copa Libertadores. Não falo em desempenho, mas em resultados. Celso Roth foi demitido. Adiantou? Na grande maioria dos casos, mudar treinador em meio a alguma competição não leva à título. Pode até levar a uma mudança repentina no comportamento tático do time e no aproveitamento de alguns jogadores. Às vezes, a mudança até é necessária. Mas só em último caso. Títulos e boas campanhas, de fato, são conquistados com sequência de trabalho. Essa é a regra, logicamente há exceções.

Embora seja torcedor, tenho minhas convicções sobre futebol. Procuro sempre avaliar e crescer também, não só como torcedor, mas também como analista de fatos. Sei que futebol é dinâmico e que amanhã posso ter outra opinião, caso uma sequência de resultados negativos possa se colocar diante do Internacional, fazendo com que o principal objetivo do ano não seja alcançado. Mas se há convicção, que se siga o trabalho. Também é necessário termos opinião própria. Exemplificando, particularmente não gosto de esquema com três zagueiros e apenas um atacante. Em determinadas ocasiões, o Internacional tem utilizado apenas um jogador como atacante de ofício. Ainda assim, precisamos analisar os fatos:

Neste ano, o gauchão não era prioridade do clube, embora seja lógico que o Inter e sua torcida queriam vencê-lo mais uma vez. Dizer o contrário seria muita hipocrisia. Alguns torcedores de outras equipes adotam essa prática. Eu, não. Independentemente disso, em três clássicos, o time colorado venceu dois. Perdeu um. Foi derrotado no derradeiro, é verdade. Foi vice-campeão. Temos que saber que futebol nada mais é do que um esporte e nem sempre se vence. Bola para frente. Na Copa Libertadores, o Inter seguiu adiante, eliminando nas oitavas e nas quartas-de-final, respectivamente, o Banfield – um clube não mais do que médio na Argentina, que tem obtido destaque nacional apenas nos últimos anos, quando foi campeão do seu país – e o Estudiantes – que dispensa comentários, pois é simplesmente o atual campeão da América, sendo também um dos clubes mais tradicionais do continente.

Resumidamente, respeito à todas as opiniões que são emitidas favoráveis a demissão de Jorge Fossati neste momento. Respeito é fundamental. Mas discordo totalmente. O momento não é de mudanças e sim de afirmação no Inter. Gerenciar futebol não é fácil e é por isso que o Internacional tem profissionais competentes para avaliar o time, tanto tecnicamente quanto fisicamente e clinicamente. Detectar problemas, de forma leviana, geralmente é fácil. Difícil é apontar soluções viáveis e acompanhar o trabalho realizado diariamente pelos profissionais. Muitos críticos baixaram o nível nas análises direcionadas ao Internacional nos últimos dias. As críticas davam conta de que o Internacional colocou time misto contra o Cruzeiro pelo brasileirão e que tanto o time mineiro quanto o Estudiantes jogaram com todos os seus titulares em seus campeonatos nacionais. Esse era o exemplo utilizado pelos críticos. Ninguém, entretanto, fez questão de ressaltar que o semestre do Estudiantes acabou sem título porque faltou preparo para a sequência de jogos e que o Cruzeiro perdeu a Libertadores. Não estou dizendo que as decisões colocadas pelo Internacional são verdades incontestáveis, nem que o time segue adiante na Libertadores por ter poupado titulares no campeonato nacional. Enquanto torcedor, também contesto algumas situações do Inter, que agora não vem ao caso. Mas algum respeito à diretoria e a comissão técnica merecem, devido a esses fatos. O objetivo principal, até o momento, foi alcançado. Parcialmente, é verdade. Mas foi alcançado.

Concordo também que, às vezes, a melhor saída é demitir o treinador e dar um novo ânimo ao clube. Assim como no ano passado. Em 2009, chegou um momento que foi impossível manter Tite no comando do time. Acho Tite um bom profissional, mas chegou um momento em que o time colorado degringolou e não havia mais resultados nem motivação do grupo. Era preciso mudança. Entretanto, demitir treinador a cada crise ou a cada revés do time não dá resultado. Isso só gera transtorno, falta de confiança nos atletas e na torcida, dívidas estratosféricas acumuladas. Isso tudo leva uma equipe a perder sem parar e, sem confiança, sem torcedor participativo e sem títulos, forma-se uma fila de anos de espera por um título de grandeza expressiva. O próprio Internacional já viveu essa realidade. É de se pensar.

Jorge Fossati é um bom treinador. Tem decisões que, às vezes, não agradam à todos. Mas vem alcançando seus resultados na competição objetivo do clube. Como vem alcançando? Independentemente de qualquer observação, treinador e time estão trabalhando. E os resultados estão sendo satisfatórios na Copa Libertadores. Não estou falando de atuação, e sim de resultados. Mas, agora, Libertadores é só depois da Copa do Mundo. Haverão algumas madrugadas de espera, de dúvida, de crença e de angústia. Mas o momento, agora, é de afirmação.

Quinta-feira, 27 de maio de 2010. Campeonato brasileiro. Estádio São Januário. Vasco da Gama e Internacional se enfrentarão, pela afirmação de ambos no campeonato nacional. O momento é de seqüência de trabalho. Grande jogo à vista! Força, Inter!

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