Por Luciano Bonfoco Patussi
17 de julho de 2019
Eram três horas da madrugada. Quando
vi, estava acordado. Em pé, com frio, escorado no marco da porta da sala, nele
me segurando com a mão esquerda. Sem saber o que ali estava fazendo. A cena foi
patética. Acordei e perdi o sono. É dia de decisão! Na hora, lembrei-me de uma
cena parecida – no meu imaginário enlouquecido de torcedor:
Era ensolarado o início de tarde
daquele longínquo domingo. Implorei ao meu pai: “vamos no jogo!”. Ele terminou
de lavar os espetos após o churrasco dominical e, quando percebi, estávamos em
um dos degraus de concreto com vida na beira do rio. Foi minha segunda vez no
estádio. A massa entoava, entre outras canções:
“Chora, porco imundo. Quem tem
Caíco não precisa do Edmundo”.
Fato é que, embora Caíco jogasse
muito e fosse nosso ídolo, jamais esquecerei a atuação de Edmundo naquele dia! Em
um dos gols, o “animal” recebeu a bola livre, quase dentro do gol. Escorou-se no
marco da porta (leia-se, na trave), antes de empurrar a esférica para a rede. Sem
muito se dedicar, o atual campeão brasileiro passou por cima do esforçado
Internacional. Mas comemorei dois gols, bem nas entrelinhas: duas defesas de
pênalti do goleiro Sérgio evitaram um sonoro 4 a 0. O Palmeiras seria campeão
brasileiro novamente, ao final do ano. Modelo de futebol. Desde então, passei a
afirmar: quero ver o Inter jogando dessa forma algum dia – sonho que se
realizou após 15 anos, em 2009!
Mas, passando bastante por 1994 e
voltando um pouco de 2009, era novamente ensolarado o domingo que premiou a
galera que foi ao estádio naquela tarde de 2005! O jogo foi tenso. Estava
acompanhado de colegas de trabalho, que mobilizamos para ver o Inter se manter
vivo e competitivo até a última rodada do certame nacional. A partida se
encaminhava para o final, quando Rentería marcou um dos gols de maior explosão
já visto no Beira Rio. Um gol coletivo, uma jogada de passes rápidos, em
direção à meta adversária. Um foguete! O Internacional vencia o Palmeiras por 2
a 1, e comemoraria o seu título brasileiro. Seria o campeonato do meu sonho de
criança, que escapou entre os dedos, em um assalto histórico e traumático,
ocorrido no futebol nacional!
Houve diversos clássicos
memoráveis entre esses dois grandes clubes, como no final dos anos da década de
1960, ou no brasileirão de 1979. Jogos inesquecíveis, como na Copa do Brasil de
1992 ou no campeonato nacional de 1999 – onde vivemos o drama do quase
rebaixamento, sendo salvos pelo gol de Dunga ao final da partida!
Fomos da resistência dos
tempos de Edmundo do Palmeiras, hoje rival, à alegria de Saci Rentería pelo Internacional! Tudo em anos que passaram devagar,
fazendo florescer no coração, cada vez mais, uma paixão de fazer perder o sono!
Tudo, por causa de onze camisas vermelhas perfiladas adentrando o gramado, para
talvez por linhas tortas, nos fazer sonhar com um título nacional. Mesmo que queiram diminuir o tamanho do nosso clube, não conseguirão! Atletas, jogando
de vermelho, pela sua existência. Pelo nosso time! Por todos nós!
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