Por Luciano Bonfoco Patussi
13 de outubro de 2010
Um torcedor apaixonado tem memória fotográfica. Vislumbra na atualidade momentos passados como se estivessem acontecendo, ao vivo. Passo a passo. Movimentos são precisos. Cores são idênticas. Recordo perfeitamente o instante da contratação, por parte do Internacional, de Paulo César Tinga. Isso lá em 2005. O Internacional passava por grande reestruturação. Ano após ano, era visível o aumento da qualificação do clube como um todo e do time em campo. Porém, tudo ainda era modesto para a pretensão máxima do torcedor colorado. O grande salto da equipe colorada, em termos de qualificação técnica, ocorreu em dois momentos distintos e próximos: na chegada de Fernandão e, posteriormente, na contratação de Paulo César Tinga. Eu tinha um fio de esperança em dias melhores para o nosso colorado. E naquele momento a minha esperança era calibrada com fervor.
Eis que Tinga participou de grandes momentos com o maior rival colorado. Eu não esqueço. Tinga, humilde, tinha minha admiração. Invejava, também. Indagava: como poderia o tricolor de Porto Alegre ter, no elenco, Ronaldinho, aliado a Tinga? Era demais para o adolescente colorado que viveu o final dos anos de 1990 e o início dos novos tempos. Mas resisti. Aliás, milhões resistiram. Pois valeu a pena cada segundo! Como futebolista, Tinga foi magistral vestido de três cores e, anos mais tarde, foi monstruoso e inigualável vestido de vermelho. Parecia uma grande ironia do destino, que tripudiava sem dó de meu sentimento de apaixonado torcedor.
Tinga se confunde, assim como outros ídolos, com a história recente colorada. Foi protagonista e herói. Fez passe para gol de título gaúcho. Jogou muito no campeonato brasileiro de 2005. Pois sua expulsão injusta, contra o Corinthians, aliada a conseqüente perda do título nacional daquele ano, puseram pela primeira vez minha paixão pelo futebol em provação. Eu queria largar o esporte pelo qual fui apaixonado desde a infância. Ria de nervosismo com a taça sendo erguida pelo capitão corintiano. A decepção e o sentimento de angústia eram enormes. A impotência era generalizada. A raiva, contida em lágrimas. O dolorido não era a derrota em campo. Nisso, eu já era pós-graduado àquela altura da minha vida. O grande problema era o time colorado ser campeão, pelo regulamento, e eu ver o título – o primeiro grande campeonato de minha vida – escapar entre os dedos, pateticamente, devido a uma polêmica ação federativa e judicial extracampo, isso para não citar outras palavras e expressões.
Pois erguemos a cabeça, todos nós, torcedores! Tinga seguiu jogando muito futebol. Fez o gol do título da Copa Libertadores da América, em 2006. Um marco na história colorada. Foi expulso. Deu dramaticidade àquela final. Foi negociado com o Borússia Dortmund. Virou ídolo do tradicional e popular clube alemão. Encerrado seu contrato e mesmo tendo outras propostas – talvez até financeiramente melhores – voltou para o Internacional em 2010. Chegou da mesma forma como saiu: campeão! Tinga venceu a Copa Libertadores novamente. Tinga dá qualidade à equipe do Inter. Ajusta o toque de bola. Qualifica a marcação e o passe. Tinga, junto a Guiñazú e D’Alessandro, forma o pilar do mais qualificado meio de campo de clubes de futebol da América. Tinga é o fio da esperança colorada, aquele mesmo que chegou ao Beira-Rio em 2005 e que retorna ao Internacional em 2010, cheio de gás e disposição, em um importante momento da história: estamos às vésperas da disputa da Copa do Mundo de Clubes da FIFA de 2010. O Inter estará lá. Novamente. Tinga estará junto. Do Oriente Médio, Tinga sairá campeão mundial! E o Inter será bi!
Finalizo por aqui esta singela e justa homenagem e um ídolo do passado e do presente do Sport Club Internacional. Do Bairro Restinga para o mundo da bola!
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