3 de março de 2010

A maior dádiva do final do dia

Por Luciano Bonfoco Patussi
03 de Março de 2010

A mesa estava repleta de documentos. Protocolos. Pedidos. Notas. Um oceano de problemas clamava por solução. Você era a solução, ou apenas a expectativa dela. Decisões que precisavam ser tomadas de forma imediata tomavam conta de sua mente. Os números do digital mostravam que o entardecer se aproximava. O ponto estava ali, pronto para ser batido. Você namora o relógio. Ele faz chacota de você. O dia foi cheio. O telefone era o principal inimigo. Tocava sem parar. Do outro lado da linha, mais problemas. Você se sente inútil. Deveria ser a resolução de tudo. Mas tornava-se uma estopa velha empoeirada e engraxada sem utilidade atirada em um canto escuro do almoxarifado. As pessoas fazem você se sentir assim, um lixo. Nada disso importaria muito após o horário derradeiro de bater o ponto e cair fora da obrigação. Chegaria finalmente o horário da devoção. Ali você tornaria-se o ser humano, técnico-torcedor, mais feliz do mundo. Você teria encontro marcado, ao final do trabalho, com o Inter. Ver o Inter em campo seria a maior dádiva do final do dia para você, torcedor, fosse em um jogo decisivo de taça mundial interclubes, ou então em uma disputa deprimente da décima terceira rodada da segunda fase do primeiro turno do gauchão. Tudo parecia dar certo, até o momento em que você vê a realidade imposta, aparentemente, por papeis timbrados e rubricados. Você veria o Inter. Mas o Inter entra em campo às 17 horas de quarta-feira.

Tudo escrito acima pode representar o sentimento de parte da torcida do Inter. Ou o meu pensamento, somente. O que importa é que eu não consigo entender o que faz a Federação Gaúcha de Futebol marcar um jogo de quarta-feira para o início do entardecer. O Inter sai perdendo. Milhares de sócios são prejudicados. Outros tantos milhões de torcedores não conseguem acompanhar a partida. Enquanto torcedor e sócio do Internacional, eu gostaria que a Federação Gaúcha de Futebol explicasse publicamente o motivo de algumas de suas últimas decisões, tais como mandar o Inter à campo dois dias antes de o time estrear na Copa Libertadores da América, ou então o fato de marcar um jogo em meio de semana para as 17 horas, antes que qualquer trabalhador pudesse vestir o manto sagrado vermelho e correr para o Beira-Rio, para o boteco ou para casa ao lado do velho radinho de pilha. Explicar é melhor que silenciar. A quietude pode levar a interpretações diversas. Respeito é bom e os torcedores - não só os colorados - gostam.

Em tempo, é importante que se diga que tenho o maior respeito pela Federação Gaúcha de Futebol, entidade que ajudou no crescimento dos clubes de futebol do Rio Grande do Sul. Respeito seu atual presidente, Francisco Noveletto - o qual admiro muito profissionalmente, embora não o conheça pessoalmente. Respeito também os demais integrantes da entidade, que é uma das mais vencedoras do Brasil - graças aos vencedores clubes que a ela são filiados, diga-se de passagem. Enquanto consumidor do campeonato gaúcho, que é o produto oferecido pela Federação, eu gostaria que esclarecimentos fossem dados referente aos fatos acima expostos.

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