21 de fevereiro de 2021

Seu Telmo me contou

Por: Luciano Bonfoco Patussi

21 de fevereiro de 2021


Ansiedade e expectativa são sentimentos que transformam o dia a dia das pessoas. Há ocasiões,  especiais em nossa vida, onde o sono escapa de nosso ser, tal qual uma arrancada fulminante de Valdomiro pela ponta direita e, quando menos esperamos, o sol brilha por entre as frestas da veneziana. Maldita, janela! Horas, se passaram! Percebemos então, que essa foi mais uma noite em claro. O sol na janela, que poderia nos deixar de mau humor, imediatamente muda nosso sentimento. É o raio de sol do gol iluminado de Figueroa. Sorrimos. Só pode ser um prenúncio. Percebemos que estamos mais acordados do que nunca. A tensão, então, volta a tomar conta de nosso estado de espírito pelo resto do dia!

Há um quarto de século, uma de minhas diversões era colecionar o álbum do campeonato brasileiro, e também a Revista Placar, especialmente nas edições que ofertavam o “tabelão”, ferramenta impressa na qual eu atualizava manualmente, rodada por rodada, todos os resultados do “brasileirão”. Tinha a esperança de ver meu time campeão nacional. Sonhava em ver o Inter jogando futebol igual ao Palmeiras dos anos de 1993 e 1994, ou ao São Paulo de 1992 e 1993. Mas, estava difícil!

A única certeza que tinha, naqueles tempos, era o fato de que torcia para um clube muito popular e de tradição ímpar, mas que vivia momento conturbado. Todavia, o amor ao Internacional, só crescia. Seu Telmo, meu velho pai, teve importante parcela de “culpa” nesse amor! Eu o incomodava, com indagações sobre o Inter! Eram as mais diversas perguntas, normalmente feitas após algumas das mais variadas derrotas sofridas na década de 90. E ele, contava. Usava toda sua memória! Meus olhos brilhavam! Os anos 70 pareciam uma Fábula em Vermelho e Branco, como certa vez disse Falcão. Não era questão de dúvida, mas eu pensava: “será que, aquele time, era tudo isso mesmo?”.

Tempos depois, com o avanço da tecnologia, as pesquisas ficaram mais facilitadas. Tive a certeza de que toda narrativa de meu pai era mais do que verdadeira. Era a história do futebol brasileiro enriquecida pelo Clube do Povo. Mas, e se tudo que meu pai contou, fosse mentira? Seria tarde demais. Já estava forjado o espírito do coloradismo no apaixonado torcedor que escreve esse singelo registro!

Por questões óbvias, estes parágrafos são produzidos na madrugada, véspera de um momento ímpar. O Internacional estará logo mais, no Maracanã, enfrentando um grande adversário. O Flamengo, atual campeão brasileiro, é um time com excelentes jogadores. Apesar de único, esse momento não é uma novidade na história colorada. Em 1975, o Internacional também enfrentou uma “máquina” de jogar futebol. O adversário era outro, mas o palco? Era o mesmo! Foi uma aula de futebol. Seu Telmo me contou!

Os tempos são outros. O contexto é totalmente diferente. O resultado de logo mais, será parte de uma nova história. A única certeza é de que veremos, no Maracanã, guerreiros fardados totalmente de branco, com o vermelho bordado, pulsando ao lado esquerdo do peito, lutando por um ideal comum à “n” gerações.

Agradeço a Deus por proporcionar a glória de, em tempos de pandemia, com todos os cuidados necessários, estar ao lado de meu velho pai, realizando um sonho: o de ver o Inter chegando até o final do campeonato brasileiro, com chances reais de obter o título! Ele vai erguer a taça? A história vai contar. O importante é que, tornando essa “chegada” rotineira, um dia esse maldito jejum de títulos nacionais acabará. Obrigado, pai! Não só, por estar junto comigo nesse momento! Meu agradecimento é, simplesmente, por ser meu pai. Afinal de contas, o Papai é o Maior! É colorado, Internacional!