Por Luciano Bonfoco Patussi
13 de fevereiro de 2014
Caros leitores,
Seria uma tremenda insensibilidade não lamentar o episódio vivido
pelo meio campista Paulo César Tinga, vítima de racismo escancarado ao entrar
em campo pelo seu atual clube, o Cruzeiro de Belo Horizonte, em jogo válido
pela Copa Libertadores da América, contra o Real Garcilaso, no Peru.
Desclassificar o referido time da competição seria a punição
mínima que a Confederação Sul Americana deveria, pelo menos, avaliar. Embora eu
tenha a convicção de que, em pouco tempo, a própria natureza do futebol venha a
tratar deste tema, talvez ainda na fase de grupos do torneio.
Não cabe aqui relatar novamente detalhes do ocorrido. As imagens,
entrevistas e vídeos, disponíveis na Internet e nas redes televisivas na data
de hoje, falam por si só.
O intuito do relato que descrevo através de humildes frases é,
única e exclusivamente, prestar apoio e solidariedade a um jogador que, em
minha visão, é um dos maiores ídolos da história do Sport Club Internacional.
Tinga foi o presente de natal que os torcedores colorados
receberam ao final de 2004.
Sua contratação foi o que impulsionou, no coração dos alvirrubros,
a vontade de voltar a vencer, mas desta vez com a convicção de que vitórias
seriam possíveis. Há muito tempo, o Internacional não tinha no elenco um
jogador do porte de Paulo César Tinga.
Em 2005, o atleta esteve presente no lance que representou a maior
injustiça do futebol naquela temporada. O pênalti não marcado, em conjunto com
a equivocada expulsão da qual Tinga foi vítima em uma decisiva partida contra o
Corinthians, é imagem que invade até hoje as redes sociais e a mente dos
torcedores de futebol em boa parte do Brasil, embora alguns esqueçam!
Tempos depois, na final de Copa Libertadores de 2006, o atleta
voltou a ser expulso de campo. Injusto ou não, o fato é que ele ergueu a camisa
num ato de explosão, e esta ação fez com que fosse vitimado com a exclusão da
partida. Esta punição veio segundos após a glória máxima, obtida com a marcação
do gol que deu o título da América ao Internacional pela primeira vez. Gol de
Tinga! Tinga estava, definitivamente, com seu nome escrito na história
colorada!
O mais enigmático é que ambas as expulsões referidas acima
ocorreram em lances onde não houve violência nem desrespeito para com colegas
de profissão. Uma foi totalmente injusta, um equívoco de arbitragem; outra, foi
uma questão de interpretação, mas que apenas deu maior carga de dramaticidade a
um título que o Internacional perseguia há anos. Expulsões e injustiças que
jamais derrubaram Paulo César Tinga!
Antes disso tudo, Tinga foi formado como jogador no Grêmio, time onde também mostrou muita qualidade técnica,
carisma e caráter, sendo campeão do Brasil em 2001.
Saiu do Internacional para ser idolatrado e respeitado no
tradicional e popular Borússia Dortmund, da Alemanha.
Em 2010, tinha duas propostas para voltar ao futebol brasileiro.
Optou pelo Internacional, mesmo com salário menor do que o ofertado pelo clube
que concorria pelo seu futebol.
Naquele ano, deu apoio ao meio campo colorado, que cambaleava na
principal competição continental, sendo importante nome do elenco na retomada
do time, que obteve melhor rendimento a partir da chegada dos reforços e da
nova comissão técnica, alcançando a conquista do bicampeonato da Copa
Libertadores da América.
Dos fatos ocorridos no Mundial de Clubes de 2010, há uma lembrança
clara em minha mente: mesmo não sendo o dono da "tão disputada"
braçadeira de capitão da equipe, e com a "barca já afundada" naquele
dia, Tinga foi o primeiro jogador a "mostrar a cara" para o torcedor,
pedindo desculpas pelo desempenho da equipe como um todo.
Mais fácil seria ficar quieto, se preservando da crítica. Mas, se
agisse desta forma, não seria o Tinga que todos conhecem! Nestes momentos é que
conhecemos os gigantes de um elenco! No instante em que as glórias se traduzem
em taças, é fácil "chamar a responsabilidade" e carregar a
braçadeira.
Entretanto, assumir este comprometimento, no momento em que
turbulências ocorrem, é algo bem mais complicado. Tinga não tinha a tarja no
braço naquele dia fatídico, mas agiu como um verdadeiro capitão!
Assim é que se formam ídolos de verdade e, sinceramente, fico na
expectativa de que as pessoas não esqueçam esses fatos, e que essas recordações
sirvam para definir de maneira mais emblemática e clara o futuro que o
Internacional quer trilhar a partir de 2014. Sou um tanto realista e prefiro
esperar para ver.
Alguns fatores fizeram com que Paulo César Tinga não mais jogasse
no Internacional. Recentemente, ele foi fazer história no Cruzeiro, onde
participou de um grande elenco, se tornando campeão brasileiro.
Hoje, Tinga é um atleta que, mesmo quando joga 30 ou 45 minutos em
uma partida, faz a diferença! Pode entrar somente no segundo tempo, ou ser substituído no
andamento do jogo. Mas o torcedor pode sempre ter certeza: serão os 30 ou 45
minutos mais intensos de um jogador do seu time, dentro de campo!
Qualidade técnica, garra, caráter profissional, respeito com o
clube que representa, liderança positiva. Tudo isso não se compra. Ou se tem,
ou não se tem. Tinga tem todas essas características e por isso está na
história dos times onde jogou e, principalmente, do Internacional!
Diante de todo o histórico mencionado anteriormente, comparando
isso com o episódio triste, ridículo e patético proporcionado por boa parcela
do torcedor do Real peruano, só resta a Paulo César Tinga ter uma definitiva
certeza: ele é um gigante do futebol!